Fala como se se estivesse a afogar e precisasse de falar; como quem inspira o ar às golfadas, muito e com muita intensidade, sofreguidão mesmo.
Que ama aquela cidade, quer ir além na vida, atingir o seu potencial, que tem dúvidas existenciais e um horror quase fóbico de imaginar que a sua vida pode ser medíocre ou mediana.
É grande e, apesar de bastante magra, a sua presença é sempre incontornável.
Olha-me com os olhos azul-céu numa expressão séria com que não se apercebe que intimida a maior parte das pessoas que não a conhecem. E, enquanto acende um cigarro, diz que quer saber a minha opinião, ao mesmo tempo que prossegue o seu argumento. Depois, quer mesmo saber a minha opinião e a seguir vê naquilo que lhe estou a dizer um assunto novo e algo completamente diverso do ponto onde na realidade estou a tentar chegar. Então, analisa a sua análise, dá a volta ao argumento e prossegue dando-me razão quando há 15 minutos que não faço mais do que assistir com um sorriso divertido à forma como discute e refuta em si mesma os argumentos que ela própria lança.
A seguir diz-me “estou a ser chata? Estou-te a chatear?”, num súbito ataque de insegurança.
Não, é claro que não.
Ela consegue ser tudo menos aborrecida, menos cinza, menos bege.
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