terça-feira, maio 25, 2010

Outra conversa

"É que, à medida que ficas mais velha, notas que ficas mais exigente contigo e com as pessoas a quem dedicas o teu tempo, sabes?" - disse ela entre uma passa de cigarro e um gole de vodka limão que o Pedro tinha feito questão de chumbar bem de vodka.

"Concordo plenamente" - retorqui - "das coisas que realmente lamento na minha vida, olhando para trás, é o ter perdido tempo com gente que não gostava de mim, que não me apreciava. Se pudesse voltar atrás, talvez fosse essa a única coisa que eu mudaria."


Acabou o gole que dava novamente, franziu a cara e disse-me:


"Não é bem só isso, sabes? Sim, claro, é importante que as pessoas te apreciem, que gostem de ti, mas a medida que envelheces começas a escolher sobretudo pessoas que trazem alguma coisa de novo à tua vida, pessoas que te acrescentam alguma coisa."


"Pessoas que te acrescentem alguma coisa". Fez tanto sentido!

Porque nós tornamo-nos nas pessoas com quem lidamos, quer queiramos, quer não. Adquirimos os seus hábitos, os seus gostos, os seus tiques, as suas manias, as suas piadas, os seus desbloqueadores de conversa, os seus info-facts e - mais cedo ou mais tarde, consciente ou inconscientemente - a sua visão do mundo.

Então que sentido faz lidarmos frequentemente com uma pessoa que nos diz pouco? Que lógica tem fazer fretes de shopping se aquela pessoa não tem nada a ver com quem nós somos, com quem queremos ser?

Não se trata de ser puramente calculista e de renegar as pessoas que à partida não preenchem "x" parâmetros. Mas trata-se de escolhermos melhor as pessoas a quem devotamos o pouco tempo livre que temos, pensando não apenas na obrigação moral de dar atenção à pessoa X, mas também no prazer enorme de passar tempo com a pessoa Y que nos enriquece e nos torna pessoas melhores.

Está certo que o Pedro chumbou bem os nossos copos nessa noite. Mas não foi só a vodka que bateu.

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