quarta-feira, outubro 04, 2006

Uma semana

Há cerca de uma semana a minha irmã partiu para a República Checa.

Havia tanta, mas tanta coisa para dizer sobre este assunto que nem sei bem por onde começar...

Claro, sinto a falta dela.

Mas o engraçado é que estou às vezes semanas sem falar com ela quando está em Coimbra, por isso a falta que sinto não se prende com o tempo nem com a ausência propriamente dita. Prende-se com algo diferente: o saber que, se eu quiser estar com ela, abraçá-la, chorar no seu ombro (e, ah!, como me apetecia tê-la aqui para perceber tudo sem que eu precisasse sequer de abrir a boca!), não posso.

Não é propriamnte o não poder, é o saber que não posso.

Não sei se isto se passa também convosco, mas esta melancolia do saber que não posso estende-se igualmente a outras áreas da minha vida, como, por exemplo, o dinheiro. Não há alturas em que sinta tanto que quero comprar coisas como quando não tenho dinheiro. Quando o tenho, atraso as compras tempos infinitos com a fria calculação do "preciso ou não preciso?", "vou usar mesmo isto?", "se calhar, arranjo mais barato."

E agora levando o conceito ainda mais longe: já pensaram que é a noção do não posso que torna a generalidade dos doentes com cancro pessoas que dão valor à vida... Chegando ao ponto de dizer que a sua vida melhorou após diagnóstico?

A noção do quero e não posso é mesmo um grande motor. Pode ser uma coisa positiva, na medida em que nos recorda das nossas limitações e nos pode ajudar a dar a volta às mesmas (caso flagrante das pessoas com muitas actividades que arranjam sempre tempo para fazer uma tarefa extra, por contraposição às pessoas sem nada para fazer que cada vez fazem menos...) ou pode ser uma coisa negativa, na medida em que nos pode paraliazar... Como é o caso dos lutos mal resolvidos.

Essencialmente é a aceitação noção do quero, mas não posso que faz com que cresçamos. É a noção de que, de uma imensidão de caminhos, vamos começando a caminhar numa direcção que cada vez é mais específica. Que temos de optar.

E aqui regresso à minha mana. E gostava de lhe lembrar a ela, dizendo-o também a vocês que tenho muito orgulho nela e na opção que ela fez: a nossa vida é tão curta que temos de aproveitar as oportunidades que surgem, mesmo se sacrificamos gratificações imediatas ou confortos adquiridos, como a papinha da mãe, ou a cama da mana aos Domingos de manhã. Uma vida bem aproveitada e sentida como gratificante tem muito que ver com as escolhas divergentes que fizemos.

Todos os nossos caminhos vão dar à mesma (última) morada. A questão está em saber como, de entre o limite de escolhas que temos, fazemos a viagem da forma mais interessante possível.

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