quarta-feira, junho 28, 2006

Fibromialgia

"O seu impressionante catálogo de sintomas - nevralgia facial, dores de estômago, paralisia dos membros inferiores, palpitações, desmaios e histeria - tinha causado alguma perplexidade aos membros da profissão médica na América, que não eram capazes de encontrar nenhum distúrbio orgânico;"

"Após a morte da mãe, ela melhorou de forma notável, como se o facto de ter de cuidar do pai, agora viúvo, a tivesse feito encontrar uma razão para viver e uma insuspeitada reserva de energia; mas quando o pai morreu (...), Alice voltou ao estado de prostração anterior."

"Entretando a saúde de Alice não melhorou. Os médicos ingleses franziam o sobrolho, apalpavam, examinavam e finalmente diagnosticaram-lhe "pseudogota" e "um sistema nervoso anormalmente sensível"; receitaram-lhe pílulas e poções, choques eléctricos e banhos de água salgada. Nada produziu efeito."


Lidar com a fibromialgia não e uma tarefa fácil para ninguém, nem para os doentes, nem para os médicos, nem para os familiares, sobretudo para os familiares mais próximos e amigos. Não raras vezes estas pessoas acabam por ficar relativamente isoladas pelo desgaste que provocam nas circundantes. Em "Autor, autor", David Lodge descreve uma forma menos desgastante e muito interessante de lidar com maleita, usada supostamente por Henry James para com a sua irmã mais nova, Alice. Achei que valia a pena partilhar.

"Ao contrario da maioria dos seus amigos e parentes, Henry não achava a hipocondria de Alice nem exasperante nem uma tragédia; achava-a interessante. Parecia-lhe que ela cultivava a sua doença como ele cultivava a sua arte. A doença tinha-se tornado a sua vocação, a sua raison d'être, e de certa forma num instrumento da sua vontade. E ele não podia deixar de observar, por exemplo, que sempre que Katharine Lorig voltava após ter estado a tratar da irmã, Alice tinha uma crise e ficava de cama, para garantir que Katharine ficava a tratar dela. Embora Henry, solícito, seguisse com interesse as experiências de Alice com vários médicos e as descrevesse em pormenor a William nas cartas que lhe escrevia, no fundo nunca esperou que resultassem. Nunca supôs que ela viesse a "melhorar" e nunca se martirizou com vãs esperanças nesse sentido. Cumpria o seu dever para com ela, ia visitá-la e certificava-se de que ela estava a ser bem tratada, mas continuava a viver a sua vida como antes.
"

(Todas as citações são excertos do romance "Autor, autor" de David Lodge, sobre a vida de Henry James)