Não gosto de clichés sentimentalóides. Na verdade, é um odiozinho de estimação que tenho.
Não gosto de clichés que as pessoas usam para dizerem que são mais
cultas ou inteligentes que os outros (dá-me uma raiva miudinha sempre
que alguém começa a "falar caro" só porque sim, especialmente se usa as
palavras mal - "isto aconteceu derivado a...", etc.).
Não me tomem por snob. Não tenho o hábito de corrigir as
pessoas nem de as julgar quando se enganam, porque se enganam e pronto.
Ou porque não sabiam alguma coisa - não temos de saber tudo e aliás a
omnisciência tiraria a piada toda à vida.
Mas não gosto de pessoas que gostam de se armar.
Gosto ainda menos de clichés sentimentalóides. Das pessoas que dizem
coisas pouco pensadas para tocar no coração dos outros. E surpreendo-me
sempre quando alguém não percebe que o cliché é apenas isso e se
comove.
Dito isto, quero dizer que sei que o texto que escrevi no
Personificcionar, "Cá te espero", pode ser lido como um cliché. Aliás, a
verdade seja dita, enquanto o estava a escrever, pensei um par de
vezes que aquilo era cliché. Um cliché social, porque são coisas que
fica bem dizer, e um cliché meu, porque aquelas são coisas que eu digo
com relativa frequência.
Quando acabei a personagem-homenagem, considerei se a devia publicar.
Não é a coisa mais bem conseguida ou inovadora que já escrevi do ponto
de vista literário, não acrescenta muito ao que já disse anteriormente e
tem o potencial componente cliché relativamente ao qual já pude expor
os meus sentimentos.
Mas não faz mal. Cliché ou não, eu precisava de escrever aquele texto.
Por mim, porque nos últimos meses algumas das crianças que mais me
marcaram no IPO têm morrido. e esse vazio é imenso. e às vezes
precisamos de nos lembrar do porquê das coisas que fazemos, e de nos
lembrarmos das coisas boas que antecederam o vazio que fica depois.
Porque - e não me importa quanto cliché isto seja - de facto, o brilho
que me ficou de a minha vida ter sido tocada por eles não se vai com a
sua morte.
E é bom as famílias saberem que nós nos
vamos lembrar para sempre deles que viveram curtos e preenchidos 6 ou 7
anos.E dos que os acompanharam.
Porque é importante agradecer. Porque é importante, dizer que eles e as
suas famílias são importantes. Que nos marcam porque nos ensinam as
coisas que são mais importantes na vida. E que talvez não aprendessemos
sem essa experiência.
Porque alguns dos momentos mais bonitos e marcantes da minha vida foram
vividos na ala Pediátrica do IPO onde estas crianças me ensinaram as
coisas mais importantes (outra vez esta palavra, sempre esta palavra,
até à exaustão) que sei. e que não quero nem vou esquecer nunca.
E porque é importante dizê-lo, tantas vezes até que se torne cliché.
Ou melhor ainda, provérbio.
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