Sentei-me na cadeira e dei-lhe a mão. Agarrou o meu braço e começou logo a puxar a manga para cima, queria agarrar-se a ele como se fosse um peluche. Era uma mulatinha linda, com duas trancinhas e pestanas compridas. Estava a dar o Ruca na sua televisão de quarto de isolamento.
Meti conversa em vão, até olhar para a sua boquinha entreaberta com a chupeta apenas a marcar presença na ponta. Estava cheia de feridas. Todo o lábio interior era uma crosta.
Calei-me e entreguei-lhe o braço. Começou a fazer-me festinhas e eu quis retribuir, o que a fez zangar silenciosamente.
Percebi o contrato.
Cheguei mais perto da sua cama. Pousei o braço todo que ela agarrou como se lhe pertencesse e começou a afagá-lo devagarinho, como se embalasse os seus próprios dedos.
Ficamos assim quase uma hora. Em silêncio, a ouvir as aventuras do Ruca, de braços enlaçados. Ela dormiu e até roncou. E quando eu me ajeitava na cadeira fazia-me mais festinhas, docemente, pedindo-me sem palavras que permanecesse imóvel e fosse dela até a sua mãe voltar.
Olhei por ela naquela hora e nesse tempo a vida fez sentido. Nada do que eu sou, do que eu faço, do que eu alcanço importa àquela menina de 3 anos. Apenas a minha presença, o meu braço ao seu dispor era necessário para eu fazer sentido naquele momento.
E fiz.
3 comentários:
adoro!
é dificil ler estes contratos... obrigada por seres diferente.
Recebemos tanto mais do que damos no voluntariado... É inacreditável... **
:)
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