sexta-feira, março 19, 2010

"Sem ti, Inês"

Perder é sempre doloroso.

Apegamo-nos às coisas que temos, às nossas conquistas e em particular aos nossos projectos e sonhos como se fossem direitos inalienáveis e inabaláveis.

Ficamos aflitos quando nos roubam a carteira, o carro, a casa. Quando percebemos que a "nossa" promoção foi para outra pessoa, que o nosso amor já não nos quer.

Quando percebemos que uma pessoa "próxima" vai morrer sentimos uma perda não muito diferente e sempre egoísta (porque por vezes o melhor para as pessoas é mesmo partirem). Porque são os próximos que nos dão a sensação de segurança e de que não estamos sós de que tanto precisamos. Porque nos habituamos a ter a vida povoada
daquelas pessoa, de tal forma que não concebemos a existência sem elas.

Quando a pessoa que nos morre (reparem na expressão idiomática "a pessoa que NOS morre", como se fosse algo que a pessoa faça a outrém) é um filho, a experiência é ainda pior. Porque os filhos facilmente se tornam na razão de ser dos pais, o motivo pelo qual vão cedo para casa, a justificação de pouparem dinheiro e se privarem de coisas, o pretexto para procurarem determinadas experiências, para saírem de casa, o vício da sua vida.

Ana Granja refere em "Sem ti, Inês" que ainda hoje procura nas lojas as coisas de que a filha gosta. Que perder os pais é perder o passado, mas perder os filhos é perder o futuro. E que é uma coisa tão terrível, tão contra-natura, tão fora do imaginável que nem as línguas concebem uma palavra para isso: quem perde os pais é órfão, quem perde o cônjuge é viúvo: e quem perde os filhos?...

A sessão de lançamento do livro de Ana Granja foi intensa, poética, humana e viva - porque viver é sentir, é existir, é partilhar.

Mas confesso que a voz que me tem assaltado é a do pai de outra menina que no final contou para todos ouvirem, como tinha recentemente encontrado um bilhete da filha já falecida, dizendo que ele era o melhor pai do mundo. E como se percebeu a dor na sua voz quando disse que não lhe restava agora alternativa, mesmo no dia do Pai, de continuar a seguir em frente, porque é essa a sua obrigação.

A TUA MORTE EM MIM

II
A morte é sempre nova em mim.
Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente,
tu morreste.
Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia, cada instante,
A tua morte é nova em mim
Sempre impossível.

É assim, até à noite final.
Irás morrendo a cada instante
da vida que ficou fingindo vida.
Redescubro a tua morte como os outros descobrem o amor,
porque em cada lugar, cada momento,
tu estás viva.

(...)

Adolfo Casais Monteiro

2 comentários:

Sara Sofia disse...

ps: vai visitar o meu bloh do happy love day!
tenho a CERTEZA ABSOLUTA que vais gostar, é a tua cara

Anónimo disse...

É a maior dor do mundo. Minha princesa partiu com quase 15 anos. Como é real TUDO que ele escreveu!