Disse-lhe que a amava. Que a admirava. Que me ia fazer falta. Que queria ser como ela.
As lágrimas teimavam em sair silenciosas. Comentei para o lado que não havia solução. E como o luto é um sentimento egoísta.
Depois, disse-lhe que não se agarrasse à vida, que partisse, que não se preocupasse connosco.
Que tudo se havia de resolver, como sempre, que ela não se preocupasse.
E depois disse as baboseiras que sempre a faziam rir.
Desci as escadas e lá em baixo confirmei com a minha mãe se ela achava que ela ainda conseguia ouvir, mesmo em pré-coma.
Confirmou que sim, que a audição é das últimas coisas a ir.
Reflecti no que tinha dito e tive de voltar ao pé dela.
Pedi desculpa pelo que lhe ia dizer, porque ela nunca queria falar destas coisas, e que não sabia como é que o que eu ia dizer ia soar, mas que eu achava que a sua missão estava de facto cumprida. Que a amo. Que a adoro. Que a admiro. Que não fazia sentido ela continuar a sofrer se de facto não havia qualquer hipótese. Que é algo porque vamos todos passar e que um dia nos encontraríamos. Que não a queria ver sofrer mais, que não fazia sentido. Que partisse em paz e que ia correr tudo bem. Que a adorava.
Nessa altura, a médica interrompeu-me e eu chamei o meu padrinho para tirar as dúvidas que tinha e ver a mulher.
Ela esperou que os irmãos subissem e partiu.
Boa viagem, madrinha.
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