domingo, agosto 20, 2006




No dia 26 de Maio no Bar do CineTeatro de Estarreja pelas 23h00, fui ver Os Dias Felizes, de Samuel Beckett, em paralelo com a exposição Cem Beckett.

Apesar de ser uma Sexta e eu ter trabalhado 12 horas nesse dia, consegui aguentar-me pelas cerca de 2h30 que durou a peça... E ser tocada profundamente pela mesma.

Não é uma peça fácil. É uma metáfora mais ou menos densa. A Winnie, personagem principal (só há mais uma personagem que é o Willie e mesmo esse só aparece no fim da peça), está enterrada até à cintura e salienta com frequência que vive "Dias felizes", apesar de não ter mobilidade, ter os seus bens a terminar, carregar uma arma na carteira e ser casada com um homem que não lhe fala a maior parte do tempo, nem tão pouco lhe aparece.

O que me tocou e me fez pensar neste cenário absurdo (não fosse Beckett um ícone do teatro do absurdo) foi que Winnie está tão obcecada em ter e afirmar que tem uma vida feliz, que passa a peça toda a tentar convencer-nos e convencer-se a si própria de que é feliz, sem nunca, em momento algum fazer qualquer movimento para se libertar do monte de terra que a mantem presa até à cintura.

Eu conheço pessoas assim. Presas até até à cintura, imóveis na sua vida infeliz de superficialidades cómodas, que aclamam os dias felizes que vivem... Mas que não têm mais ninguém no seu universo a não ser elas mesmas e talvez um companheiro com quem nem sequer têm grande ligação... Pessoas em constante negação das suas limitações e dificuldades, tão obcecadas com o estar bem que não chegam a fazer nada para chegar a esse patamar...

E a peça fez-me pensar sen eu, uma pessoa tipicamente optimista, serei assim.

"Dias felizes" de Samuel Beckett relembrou-me que a insatisfação com a própria vida, a infelicidade e os maus momentos desempenham um papel importante na vida de cada um de nós: são o motor da mudança, aquilo que nos faz mexer.

Se acharmos que vivemos dias felizes o tempo todo, nunca faremos mudanças reais na nossa vida, seremos lentamente soterrados pela terra do tempo, até que um dia estaremos até ao pescoço em solo... Talvez aí mais valha não nos lembrarmos do que queríamos em primeiro lugar, porque não temos qualquer espaço de manobra...

Para saber mais sobre os "Happy Days", ou ter outras perspectivas,

http://www.sparknotes.com/drama/happydays/canalysis.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Happy_Days_%28play%29

(por exemplo)

Tenho vontade de de rever esta peça...

1 comentário:

Pedro disse...

Não, tu tens MUITO mais do que a Winnie!
(embora nem sempre tenha a certeza que tens essa percepção)