domingo, maio 28, 2006

O essencial



Sinto-me muito identificada com o minimalismo, por muito que pratique o tralhismo. Sou daquelas pessoas que gostaria de ter lucidez de não ter por casa mais do que o necessário, embora me conheça o suficiente (e aos meus impulsos criativos!) para perceber que tenho sempre de ter uma parafernália de coisas por perto para estar em paz.

Nos últimos dias tenho-me questionado sobre a racionalidade desta necessidade absurda. Tenho jeito para o desenho, mas não costumo desenhar; gosto de fazer esculturas em arame e bijuteria, mas já não faço disso há décadas, tenho uma paixão por Direito adormecida há séculos, tenho imensos livros de Psicologia de que não li mais do que as primeiras páginas e um projecto para escrever um livro desde os meus doze anos... Tudo isto mantém o meu quarto atulhado e os meus "preciosos bens" fora do alcance da minha rotina habitual, retirando-lhes a utilidade que lhes almejava.

Dou por mim constantemente a pensar que devia desanuviar o quarto e quando vou fazê-lo acabo por, invariavcelmente, me demorar perante as coisas que me trazem recordações, as coisas que tenho de fazer "urgentemente", embora me tenha esquecido delas há décadas, e o maior resultado visível é mesmo uma mudança na disposição dos móveis e coisas do meu quarto/compartimento visado.


Concluo sempre que não tenho tempo de fazer todas as coisas, mas nunca me consigo convencer dos meus limites, verdadeiramente... E acabo por pensar que, na verdade, crescer é isso: é percebermos que os nossos recursos no curto espaço de tempo que por cá andamos são limitados, que provavelmente não poderemos nesta mesma vida ser ao mesmo tempo "médica, jornalista e cabeleireira", como dizem os miudos a dada altura... É-me extremamente difícil aceitar que à medida que o tempo avança eu vou perceber cada vez mais sobre cada vez menos, que mais vale fazer qualquer coisa, por mais pequeno e mediocre que seja, do que estar à espera de uma oportunidade insuspeita para fazer qualquer coisa de grandioso...

E no entanto, porquê?, mas porque é que eu não me consigo libertar da minha "tralha"?!

1 comentário:

jacky disse...

Como te compreendo... Mas eu tenho-me esforçado para me desprender do material, faço-o por fases.
Beijinhos