domingo, dezembro 25, 2005

Esquecimento

por José Carlos Ary dos Santos

Quando eu morrer,
Sem o cansaço inútil da jornada
- Porque nunca o senti -
Sem o manto sublime da amargura
- Porque nunca chorei -
Sem a réstia de fogo da alegria
- Porque nunca me ri -
Aqueles que me odiaram,
Os poucos que me acolheram
E os muitos que nunca vi,
Hão-de chorar por convenção
Ou sorrir por teimosia.
Mas nunca ninguém se lembrará
Do pobre que nunca riu
Nem chorou
Nem sentiu.

Este poema, é-me muito querido (mas isso não é lá muito invulgar no Ary) porque de uma maneira simples e ilustrativa nos lembra que viver é sentir.
Acho que todos conhecemos pessoas que vivem resguardando-se das emoções, porque têm medo de se magoar, por que se querem preservar, ou porque simplesmente acham que não devem dar mais de si. O poeta fala no "cansaço inútil", na amagura sublime e na alegria sempre com o mesmo tom.
Não importa se é inútil, não importa se é amargo, não importa se é uma réstia: é sentir.
E só perduramos e permanecemos nas memórias e corações das pessoas com quem nos cansamos, choramos, rimos... Sentimos!
(Dedicado a ti, que tens "medo" dos poemas)

4 comentários:

Pedro disse...

obrigado por me teres feito ver que a poesia não é nenhum bicho-papão, cheia de subterfúgios e entendimentos transcendentais.
:)
*s
Pedro

K. disse...

Bonito, este poema.

ponto azul disse...

Também gostei muito deste poema!Espero que tenhas tido um Bom Natal!Bjs :-)

Helena Martins disse...
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