terça-feira, agosto 17, 2004

Today I'm a believer

O homem tem mesmo mau aspecto.
Senta-se a um canto escondido do balcão do café-tasca daquela rua, onde tem visão perfeita daquilo que se passa dentro e fora do estabelecimento. Bebe o dia todo e manda comentários e bocas foleiras a torto e a direito. É arrumador. Faz um olhar esgazeado quando passo com as minhas colegas e já não deve tomar banho há uns tempos valentes.

Hoje, encontrou a chave de um carro no passeio. Era uma daquelas chaves com comando... Um Renault. Começou a carregar no botãozinho à procura do carro que lhe correspondesse... E encontrou-o a poucos metros.

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Estava a sair da formação. Depois de ter feito mais um teste de fim de módulo, despedi-me dos meus colegas e meti a mão na carteira para tirar de lá a chave do carro.

Não estava.

NÃO ESTAVA?!!!!!

Não estava.

Comecei-me a sentir mal. Fisicamente mal. O meu coração começou a bater depressa e a minha respiração estava cada vez mais difícil, uma resposta fisiológica que já não me é estranha, porque já perdi algumas coisas de valor e sou roubada com uma frequência superior ao normal... Mas um carro era um pouco demais.

"Calma", disse a Sara. "Calma."

"Calma", disse alto para mim mesma.

O carro ainda lá estava quando viéramos de almoçar e estava lá à hora do lanche quando fomos tomar um pingo ao café-tasca daquela rua.


Deixei as coisas com a Sara e fui a correr ver se o carro estaria ainda no estacionamento. Teria eu deixado a chave dentro do carro? E qual era a probabilidade de alguém ter descoberto esse facto?

Corri o mais que pude. Ao subir a rua quase escorreguei porque tinha chovido. O bêbedo do café-tasca mandou uma boca qualquer que eu nem percebi o que era porque estava demasiado nervosa. Parvalhão.

Mas o carro permanecia no mesmo local. Menos mal. Mas... Estava fechado! Hã?!!!
Decidi procurar na carteira.

"Calma, Lena, Calma." Disse alto de mim para mim, enquanto me tentava manter controlada.

Esvaziei a carteira e nada.

Eu de facto não tinha a chave. De repente, olho para o limpa-para-brisas e heis senão quando vejo um papel que dizia:

"Procurar no café Amandeos
achei 1 chave
por favor, dirija-se ao barredor
A lei dos da Câmara"

O Amandius é o café-tasca da rua. O "meu anjo" foi o homem de muito mau aspecto.

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A história está obviamente mal contada. Eu de facto não percebi bem como é que tudo se passou exactamente, porque estava muito nervosa e só consegui agradecer ao homem e perguntar sem ouvir como é que tudo se tinha passado.
Mas os factos puros, duros e completamente inacreditáveis nos dias que correm são:

Hoje, um homem encontrou a chave do Renault Megane do meu pai, deu-se ao trabalho de descobrir o veículo e devolveu-ma.

AINDA HÁ PESSOAS HONESTAS!

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