Today I'm a believer
O homem tem mesmo mau aspecto.
Senta-se a um canto escondido do balcão do café-tasca daquela rua, onde tem visão perfeita daquilo que se passa dentro e fora do estabelecimento. Bebe o dia todo e manda comentários e bocas foleiras a torto e a direito. É arrumador. Faz um olhar esgazeado quando passo com as minhas colegas e já não deve tomar banho há uns tempos valentes.
Hoje, encontrou a chave de um carro no passeio. Era uma daquelas chaves com comando... Um Renault. Começou a carregar no botãozinho à procura do carro que lhe correspondesse... E encontrou-o a poucos metros.
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Estava a sair da formação. Depois de ter feito mais um teste de fim de módulo, despedi-me dos meus colegas e meti a mão na carteira para tirar de lá a chave do carro.
Não estava.
NÃO ESTAVA?!!!!!
Não estava.
Comecei-me a sentir mal. Fisicamente mal. O meu coração começou a bater depressa e a minha respiração estava cada vez mais difícil, uma resposta fisiológica que já não me é estranha, porque já perdi algumas coisas de valor e sou roubada com uma frequência superior ao normal... Mas um carro era um pouco demais.
"Calma", disse a Sara. "Calma."
"Calma", disse alto para mim mesma.
O carro ainda lá estava quando viéramos de almoçar e estava lá à hora do lanche quando fomos tomar um pingo ao café-tasca daquela rua.
Deixei as coisas com a Sara e fui a correr ver se o carro estaria ainda no estacionamento. Teria eu deixado a chave dentro do carro? E qual era a probabilidade de alguém ter descoberto esse facto?
Corri o mais que pude. Ao subir a rua quase escorreguei porque tinha chovido. O bêbedo do café-tasca mandou uma boca qualquer que eu nem percebi o que era porque estava demasiado nervosa. Parvalhão.
Mas o carro permanecia no mesmo local. Menos mal. Mas... Estava fechado! Hã?!!!
Decidi procurar na carteira.
"Calma, Lena, Calma." Disse alto de mim para mim, enquanto me tentava manter controlada.
Esvaziei a carteira e nada.
Eu de facto não tinha a chave. De repente, olho para o limpa-para-brisas e heis senão quando vejo um papel que dizia:
"Procurar no café Amandeos
achei 1 chave
por favor, dirija-se ao barredor
A lei dos da Câmara"
O Amandius é o café-tasca da rua. O "meu anjo" foi o homem de muito mau aspecto.
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A história está obviamente mal contada. Eu de facto não percebi bem como é que tudo se passou exactamente, porque estava muito nervosa e só consegui agradecer ao homem e perguntar sem ouvir como é que tudo se tinha passado.
Mas os factos puros, duros e completamente inacreditáveis nos dias que correm são:
Hoje, um homem encontrou a chave do Renault Megane do meu pai, deu-se ao trabalho de descobrir o veículo e devolveu-ma.
AINDA HÁ PESSOAS HONESTAS!
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