terça-feira, julho 27, 2004

Encontraram-se às três da tarde no café para ver as fotografias. Era óbvio para ambos embora jamais o admitissem que as intenções eram outras.
Ela tinha receio e ele achava que talvez não houvesse entendimento entre os dois.
Ela precisava de se sentir absolutamente confortável em qualquer relação íntima porque caso contrário desorganizava-se; ele não sabia o que esperar dela, pelo que procurava não investir demasiado naquela relação embora fosse patente o interesse.
Ela estava à procura de um companheiro, um amigo e namorado, uma exigência demasiado elevada para maioria dos homens que já conhecia. Ele queria partilhar do seu entusiasmo e vitalidade para se sentir jovem outra vez.
Ela achava que lhe apetecia experimentar uma coisa nova, leve e sem compromissos; ele queria uma coisa leve e sem compromissos.
Mas ela era virgem em todos os sentidos. Sobretudo nos menos evidentes. Ele não.
Ela nunca tinha tido uma relação nem semelhante à que almejava porque se sentia demasiada envergonhada da sua inexperiência para admiti-la, o que a fazia afastar todas as pessoas que passavam o seu "perímetro de segurança". Ele estava desapontado com as mulheres, mas sentia-se atraído pela novidade.
Ele tinha namorada. Ela não.
Ele era um profissional reputado, ela estava a concluir a licenciatura.
Ele Porto, ela Braga.
Ele estava em fase de assentar, ela começava a explorar a sensualidade.
Era três da tarde e ele estava atrasado meia hora, mas ela desculpou. Tinham decidido sem se consultarem que aquela seria uma bela amizade, cheia de cumplicidade e improbabilidade porque ninguém adivinharia que eles se dessem.
Então conversaram, riram-se das fotos, partilharam as novidades, contaram as histórias velhas e apesar de todos os pesares, despediram-se sem data de retorno, porque era demasiado complicado e nenhum deles acreditava que o outro o quisesse, não obstante aquilo que os olhos viam.

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