Numa conferência sobre a Máfia, Roberto Saviano dizia que o escritor a quem tinha sido dada uma sentença de morte pela Cosa Nostra "caminhava com uma aura de morte", explicando, o autor não está morto, mas toda a gente sabe a eminência desse acontecimento e na verdade tratam-no como se tivesse já morrido ou estivesse a morrer.
De alguma forma, dou por mim a pensar como também a morte - não obstante os condicionamentos físicos e biológicos incontornáveis - é também ela própria uma construção social e narrativa.
Como conseguimos manter pessoas, relações, animais e acontecimentos vivos nos nossos discursos, muito depois de terem perecido e ao mesmo tempo como também construímos o estado de pré-morte de alguém narrativamente.
Hoje falei de uma pessoa viva no passado, como se já não estivesse entre nós e arrepiei-me. Se por um lado é uma coisa adaptativa - porque eventualmemte acontecerá, é incontornável, por outro lado, foi tão prematuro, tão despropositado, que pareceu quase um sacrilégio.
A morte continua, quer queiramos, quer não, a ser um dos grandes tabus da nossa sociedade.
"E agora vamos lá parar de falar disto que é para não agourar".
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